Por que às vezes é preciso de impacto para haver respeito?

Ontem foi Dia Internacional da Pessoa com Deficiência e, nessa semana – antes do dia 03 -, uma página no Facebook causou alvoroço. “Movimento pela Reforma de Direitos” era o nome. As reivindicações dos idealizadores eram de chocar qualquer mortal. Eles defendiam a “redução em 50% das vagas exclusivas para deficientes”, o “fim das cotas para deficientes em empresas” e outros “privilégios”. Sim, direitos eram considerados privilégios. Para convencer mais, havia uma petição com essas reivindicações.

O impacto foi fortíssimo a ponto de várias pessoas denunciarem a página. Eu também fiquei extremamente revoltada com o tom das publicações. Mas pouco tempo depois, me dei conta, em um dos comentários, que tudo isso poderia ser alguma campanha, uma vez que o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência se aproximava – dia 03 de dezembro. Dito e feito: no dia seguinte ao do alvoroço, a página publicou um vídeo (veja aqui) em que Mirella Prosdocimo, presidente do conselho municipal dos direitos da pessoa com deficiência de Curitiba, fala sobre a campanha, cujo objetivo foi o de chocar as pessoas. Além disso, a mensagem principal foi: “Não é privilégio. É direito.” Uma outra mensagem foi a seguinte, colocada em cima do anúncio da petição:

Sem título

Depois disso, houve uma divisão de opiniões entre as pessoas com deficiência. Muitas repudiavam a campanha, pelo seu tom agressivo. Para outras, apesar do tom, esse impacto é necessário para haver consciência por parte de quem não respeita os direitos das pessoas com deficiência. Me senti agredida? Sim. Acredito que há outras formas de conscientização. Por que não se inspirar nas mensagens divulgadas pelas páginas antes da “revelação” e colocá-las em caixas preferenciais, vagas reservadas e banheiros para deficientes? Quem usa sem necessidade uma vaga reservada ou um banheiro acessível ou vai ao caixa preferencial, por exemplo, precisa ser submetida a impactos, sim. Infelizmente ainda é de se espantar – ainda que positivamente – quando uma pessoa, ao ver uma pessoa com mobilidade reduzida, cede a ela sua cadeira, por exemplo. Que o bom exemplo torne-se rotina.

Sobre o autor

Jornalista que, por brincadeira do destino, quase cursou biomedicina e começou publicidade e propaganda. Adora assuntos relacionados a cultura e saúde. Tem paralisia cerebral, lesão que provocou sua deficiência física, afetando também sua fala.

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