Terminal Saudade

Terminal Saudade

Terminal de ônibus, preciso pegar o XXX praça do correio, que vai para o centro de São Paulo, aguardo na fila pensando em tarefas diárias, o que preciso comprar no centro e mentalmente já organizo as ordens e coisas que devem ser feitas nessa data, quando o pensamento foge e penso também naquela sobremesa incrível, como será o final da série, como andam meus amigos e sobre política.

A fila está grande e as conversas já começam a interferir meus pensamentos, presto atenção naquela conversa despretensiosa de uma avó com o neto. Deve ter uns 6 anos, com uma alegria típica da idade. João o nome dele, é assim que ela o chama. Pergunta para ele como foi na escola e se está com fome. Ele responde que foi bem e que não está com fome, diz se pode assistir desenho e comer bolacha. Ela só dá um olhar e ali eles encerram a conversa. Pelo menos para esse ouvinte que ali estava. Minha memória refresca como eram minhas conversas com minha avó e como ela também me respondia mentalmente. Deve ser dom de avó.

Passo pela catraca e me sento perto do cobrador, este por vocação é falante, penso eu, mas para minha surpresa este era calado, com uma cara de sono, que me deu também sono. Até que, um vendedor ambulante entra e começar uma conversa política com ele. Falam das eleições e da velocidade das marginais, passam para futebol e sociologia (analisando os motoboys). Um jovem no banco da frente interage com eles e começam a falar mais profundamente sobre futebol, da seleção brasileira.

Enquanto isso o motorista guiava o carro, assim que eles chamam, com tranquilidade, conversando com um passageiro que viajava na porta, falavam sobre a empresa, o rapaz devia ser da empresa de ônibus, conversavam de situações inusitadas e sobre o futuro na empresa.

O cobrador sentia-se confortável por seu time estar em primeiro no campeonato e o motorista continuava sereno na sua guia, tudo tranquilo. Meu ponto estava quase chegando,  deitei um pouco a cabeça para escutar aquela conversa pura da criança com sua avó, não escutava mais um “piu”, o menino dormia no colo de sua avó. Desci e fui cuidar dos meus afazeres e compromissos.

Pensei em muitas histórias bonitas e interessantes, mas nada seria comparável com a pureza do cotidiano, sem nada de muito fantástico, a não ser aquela avó.

Acho que queria ser aquele menino novamente.

Atualizado em 03/2021
Foto por David Mark em Pixabay 

Sobre o autor

Defini-lo é difícil, se diz Escritor e poeta, com formação e atuação nas áreas de comunicação, mas na verdade é apenas um rapaz latino americano, que escreve para se libertar de seus pensamentos. Procura transcrever com palavras o que seus olhos registram e o seu coração sente. Literalmente.

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