Eu odeio ir ao banco

Eu odeio ir ao banco

Odeio ir ao banco. Odeio mesmo.

Acredito que os aplicativos bancários são as coisas mais geniais já inventadas para minha geração. Você consulta seu saldo, faz transferências e pagamentos sem precisar levantar do sofá.

Eu sou um pouco preconceituosa com algumas coisas e esses tais aplicativos. Pelo menos, eu era. Costumava ser desconfiada e achava que era tudo parte de uma conspiração ou algo do gênero. Se é ou não, deixei pra lá. Agora minha vida bancária se resume a esses aplicativos. Às vezes acesso minha conta só por acessar (exatamente como faço com meu Twitter). Não espero encontrar nenhuma novidade e nenhuma interação por lá (na conta e no Twitter), mas mesmo assim costumo dar uma checada… Vai que aparece uma surpresa (boa ou ruim).

Infelizmente nem tudo são flores (e aplicativos). Troquei de emprego recentemente e, com isso, também troquei de banco. Tive que ir até minha velha agência (com logo azul e amarelo) para fechar a conta. Enquanto aguardava para ser atendida, uma senhora sentou-se do meu lado e puxou conversa:

  • O que você veio resolver?
  • Fechar a conta.
  • Ah, mas por que?
  • Mudei de emprego, preciso abrir conta em outro lugar.

Logo o inquérito sobre minha vida percorreu minha área de atuação profissional, meus estudos, minha casa e minha família. A investigadora parou quando finalmente a chamaram na mesa preferencial. “Tchau, fia!”.

Naquele dia fechei minha conta num banco e percebi que já estava praticamente atrasada para o trabalho. Como, em nome dos deuses, os bancos podem demorar tanto? Não percebem que é algo que acontece sempre? Contratem mais pessoas, sejam mais rápidos, sei lá!

Pois bem. Quase duas semanas depois foi minha primeira oportunidade de ir ao outro banco (esse tem a cor vermelha). Cheguei à agência às 10:04. Me sentei num canto inóspito da fileira de cadeiras para evitar conversas. Admito, sou antissocial. Sim, sou estudante de Comunicação Social. É, não faz sentido. Tá, eu sei que é feio. TÁ! EU SEI.

Minha tranquilidade não durou muito. Logo a fileira de bancos começou a encher de jovens mães, crianças cutucando o nariz e senhorinhas com batom forte e cabelos tingidos. Se você está pensando que uma dessas senhorinhas se sentou ao meu lado, você está coberto de razão.

  • O que você veio resolver?

Foi quase um deja vu.

  • Abrir uma conta. –respondi.
  • Ah, que bom. Eu vim conversar com a gerente, então eu sou a próxima da fila. É aquela loira ali, tá vendo? Essa é a décima nona vez que venho aqui. Cada vez ela demora quase duas horas para me atender. Esse banco aqui só serve pra tirar nosso dinheiro!

Concordei com a cabeça mostrando-me visivelmente desinteressada. A velhinha falou mais um pouco da própria vida e de repente parou uma palavra na metade e se levantou. Eu a acompanhei com os olhos enquanto ela ia quase correndo até a mesa da gerente.

Vários minutos depois eu estava ouvindo a voz da senhorinha se exaltando com a gerente. Alguma coisa estava dando treta. Mais alguns minutos depois (é, fiquei sentada por 50 minutos contados no relógio) a velhinha se levantou e saiu resmungando pela porta giratória.

Eu odeio bancos. Odeio a fila do caixa eletrônico, odeio as poltronas duras que ficamos sentados e odeio ir até lá para não resolver nada. Aquela velhinha provavelmente também odeia o banco.

A parte boa é que quando eu tiver a idade dela, terei aplicativos no celular. Talvez até lá a gente nem precise sair de casa para assinar papéis…

…Talvez até lá nem existam mais papéis.

…Talvez até lá nem existam mais filas.

Sobre o autor

Teve a ideia de criar o Sobreviva em São Paulo, foi lá e fez. Jornalista, trabalha com social media e gosta de uns rolês roots. Acampa no mato, sobe montanha e vive na selva de pedra. Já quis ser detetive, salvar o mundo e fugir com os ciganos. Tem uma relação de amor e ódio com São Paulo, fica para ouvir músicos de rua e corre para nunca chegar atrasada.

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