Texto de Priscilla Millan
A arte na rua é uma intervenção cultural, pois tem a intenção de chamar a atenção e trazer um pouco de cultura e entretenimento em uma cidade agitada e que não dorme como São Paulo. Nas ruas vemos música, dança, poesia. Vemos a vida. Transformação de algo subjetivo, interno, em algo que possa ser visto, sentido aos outros. Quando a arte te toca de alguma forma, ela realiza seu papel.
O Decreto Municipal 52.504 de 19 de julho de 2011, feito pelo então prefeito Gilberto Kassab, concedeu liberdade de expressão aos artistas, com ressalvas apenas quanto à forma de arrecadar contribuições com seu trabalho e questões de mobilidade urbana e ruídos. Em março do ano passado, a Prefeitura determinou um decreto que restringia artistas de rua próximos à entradas de metro, comércios, hospitais, pontos de ônibus e locais tombados como patrimônios históricos.
Porém, em setembro do mesmo ano, a Câmara Municipal aprovou Projeto de lei, de número 489/2011, que regulariza a profissão do artista de rua. Se não atrapalhar o movimento de carros e pessoas, os artistas podem ficar em qualquer local sem a autorização de espaço público. Podem permanecer nas ruas até as 22 horas e vender CD’s, camisetas, quadros e quaisquer objetos, desde que sejam de autoria própria.
As estátuas vivas são exemplo da arte de rua. Elas surgiram na Grécia Antiga, nos princípios do teatro grego (que foi base do teatro de hoje o qual conhecemos). No palco, em certas cenas, os artistas gregos paravam e imitavam uma pose, faziam mímicas. Estas, em Roma, eram a única forma permitida, aproveitada como uso de críticas ao governo. Já no Renascimento, os quadros vivos se popularizavam, ou seja, uma cena era congelada, atores ficavam dentro de uma moldura e simbolizavam determinada imagem. Foi o artista Étienne Decroux que criou esse novo conceito. Só ano de 1987 as estátuas invadiram as ruas das cidades. O primeiro local a recebê-las foi a cidade espanhola Barcelona. O artista responsável foi Antonio Santos Aka Staticman, que ganhou recorde. Foi parar no Guiness Book, com o tempo de estaticidade em 15 horas, 22 minutos e 55 segundos. Em 2003, venceu mais um recorde mundial, em Viseu, Portugal, ficando parado durante 20 horas, 11 minutos e 36 segundos.
Em 2010, a própria Barcelona limitou o número de estátuas vivas na rua. Na época, a conselheira municipal Assumpta Escarp disse que a concentração era muito grande. Cerca de 25 estátuas. “Somente poderão atuar 15 estátuas humanas pela manhã e 15 pela tarde a partir de 2011, para evitar a ocupação desmedida que existe atualmente, disse ela. Em entrevista a BBC, a presidente da Associação Espanhola e Comunitária de Estátuas Vivas e Teatro, Paula Noviel defendeu a arte e foi contra o senso comum imposto a classe. “”Temos muita intromissão. Ser uma estátua humana não é somente comprar uma fantasia e ficar quieto como muita gente acredita. É uma corrente artística que se chama ‘arte viva e cujos mestres foram Marcel Marceau e Étienne Decroux. Ela completa que “A pessoa tem que saber respirar, ter um bom preparo físico. “Ficando parada duas horas, uma estátua gasta a mesma energia que um ciclista após andar seis quilômetros”.
A expressão forte das estátuas nos remetem à obras de arte, pois há riqueza de detalhes ornamentados, sincronia de movimento, de troca, na mímica do teatro. A arte envolve maquiagem adequada, controle da respiração, encenar e interpretar certa forma de expressão facial e incorporar na pose escolhida. Quando recebe moedas de seu público, a estátua ganha vida e interpreta algo relacionado a personagem que representa. As crianças se surpreendem, os adultos se emocionam.
Há Festivais de estátuas. Na República Dominicana, em 2013 houve o 4° Festival Nacional de Estátuas Vivas, que impressionou pelo realismo e ornamentos. Há também o Encontro de Estátuas Vivas de Espinho, em Portugal. A 18° edição foi no ano passado e contou com 41 estátuas, 53 participantes e estatuas extra- competição, isto é, duas campeãs mundiais, uma da França, vencedora em 2006 e uma da Espanha, campeã em 2008. As estátuas são avaliadas pelo júri, em quesitos como enfeites, originalidade, imobilidade e execução plástica. O vencedor dos jurados leva 600 euros (cerca de R$ 2.000 reais) para casa e os 3 escolhidos pelo público recebem 400 euros ( cerca de R$ 1.350 reais) cada um.
Retomando a importância da arte, o site Artistas na Rua promove cadastramento de artistas, onde através de um mapeamento feito pelo Google Maps, o público se informa sobre locais onde os artistas e grupos estão. O cadastro é feito pelo site e o usuário é dividido em categorias, de acordo com características do trabalho, história, perfil.
Nos Estados Unidos, a arte ultrapassou as ruas. A arte foi transformada em produto. A Personal Music, uma conceituada produtora de áudio comercial, reuniu musicas de artistas de rua e as gravou em uma biblioteca virtual (Street Music Library) com diversos gêneros.
Priscilla Millan é uma estudante de jornalismo que escolheu a profissão para conhecer histórias e tocar o coração das pessoas. Além de informar, gosta de escrever, de forma sutil, leve e desconcertante. Gosta da magia das palavras, de seu cheiro e de seus rastros. Gosta de atitudes, mas que por trás delas, haja belas palavras que eternizam cada momento.