Sobre mudanças, caixas e loucuras na bagagem

Sobre mudanças, caixas e loucuras na bagagem

Ok, eu admito. Tenho uma invejinha (branca) daquelas pessoas que me olham durante uma conversa e dizem: “Ah, morei a vida toda lá, nem sei o que é mudar”.
Dá quase vontade de torcer o pescoço de tão amável que é…
Brincadeira.

Bom, se o conhecimento realmente vem da prática como é dito normalmente, eu devo ser expert em mudanças, talvez em breve receba até meu diploma de doutorado no assunto. Vamos esperar.
Porque eu digo isso? Simples. Nos últimos 8 anos eu fiz minhas malas incríveis 5 vezes.

Mudanças são estressantes, isso não dá para negar, afinal se você parar para olhar em volta do seu quarto agora, vai notar que tem tanta coisa, mas tanta coisa, que você precisaria de um caminhão só para ele. Isso sem contar tudo aquilo que está escondido no fundo das gavetas e as maravilhosas descobertas que você terá: aquele álbum da Copa do Mundo de 2002 com umas duas figurinhas faltando ou um CD e DVD que você sente vergonha de ter comprado um dia.

A lógica da mudança é simples: encaixote tudo, arranje algum veículo para carregar, chegue em sua nova casa e seja feliz, correto? AAAAAH que bom seria se fosse assim simples. Arranjar caixas que possam acomodar tudo o que você precisa é sempre difícil (quem guarda caixas de papelão em casa, caramba?) e tem momentos em que você para e pensa até mesmo no porque de estar encaixotando tudo aquilo (sério, essa fase vem pouco antes daquela em que você senta e desiste de tudo com aquele boneco que você ganhou há 10 anos da sua avó em suas mãos).

Passado o estresse das caixas, é hora de ir. Você dá tchau para sua residência antiga e vai para a nova, daí você chega lá e sente que praticamente voltou no tempo (INTERNET???? CADÊ TU?). Parece que falta tudo, e isso só piora quando as caixas chegam. Se você foi um sortudo de loteria e nada seu foi perdido pelo caminho, meus parabéns! Pode comemorar, mas não muito. Guarde tudo, termine sua parte, ajude sua mãe com os casacos e finalmente entenda que agora é ali que você vive.

Essa sim é a parte mais estranha de tudo.

A reflexão ‘’pós caixas abertas’’ é inevitável e necessária. Adaptar-se a uma nova casa nunca é fácil, assim como um novo emprego ou uma nova escola, e nem a sua mãe cozinhando aquele delicioso prato faz com que você esqueça que o chão ali é de madeira e não de lajotas brancas como antes. Até o cheiro da comida parece diferente.

O desespero pode bater, você pode se sentir até mesmo preso em um quarto de hotel, e principalmente sentir que simplesmente não pertence àquele lugar. Mas tem um jeito de evitar que isso tudo venha tão forte e exploda sua cabeça em pensamentos ruins: leve memórias na bagagem.

Mais do que qualquer revistinha, boneco ou videogames, as suas caixas devem estar sempre repletas de lembranças, tanto felizes quanto curiosas. Pense em como será sentar no sofá ao lado de seu irmão ou irmã, de seus pais ou quem quer que seja e assistir a novela de outro ângulo. Pense que agora talvez o micro-ondas não fique mais apertado naquele espaço pequeno e que ver o pôr-do-sol pelas janelas maiores de seu quarto pode ser muito mais incrível.

Una suas memórias ao que mudou, faça-as acontecerem novamente, mas de outra maneira, e lembre-se sempre: se o seu velho eu estiver sempre lá, junto com seu novo eu, você estará sempre “em casa”.

Atualizado em 02/2021
Foto por @felipepelaquim em Unsplash

Sobre o autor

Um cara que é estudante de jornalismo (quase) dedicado, com uma barba ruiva que só vê barbeador (bem) de vez em quando e que gosta de tentar entender o que se passa pela cabeça das pessoas. Meio maluco, mas se entende com a bagunça que é sua mente, gosta de videogames e quadrinhos e é aficcionado por buscar explicações (não) científicas do mundo em que vocês acham que ele vive. Tudo isso enquanto toma uma xícara de chá e ouve discos de vinil de várias décadas atrás.

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