Viva a vida offline, não tem franquia

Viva a vida offline, não tem franquia

As vezes bate aquela saudade dos tempos em que chegava da escola, batia um bom prato de bife acebolado com batata frita. Dispunha da tarde toda para brincar de carrinho ou jogar bola no quintal até quebrar um vaso na casa da minha vó ou a bola cair na casa da vizinha, que por ruindade ou impaciência, por vezes furava a bola e jogava sobre o muro, devolvendo o brinquedo murcho, como o espírito de criança que desinfla a cada ano que se passa, a cada novo passo rumo a vida adulta.

Calendários mudarão ano após ano, trazendo fios brancos para monocromizar a cabeça de um velho e louco, que em dia nenhum se imaginou vivendo em uma sociedade com altas crises existencialistas.

Nos dias atuais, aqueles que não tornam públicos seus comentários, praticamente não existem. É impossível encontrar em qualquer roda de bar, seja em qual for a região da cidade, uma mesa que não tenha smartphone. Desafios são feitos em troca de atenção.

Salas de aulas viraram ponto de internet livre. Não se pede mais explicação do conteúdo, pede-se o código de acesso do WiFi. Ir a uma instituição de ensino se resumiu a possibilidade de novas #hashtags, afinal, esse é o espírito da coisa. Mas lembre-se: se foi a padaria comprar pão, não esqueça de postar uma #selfie com o Seu Manoel. Porque você estava lá, certo?

Está feliz? Triste? Entusiasmado(a)? Lembre-se que é de extrema importância que sua rede de (per)seguidores saibam, afinal, eles estão aí para garantir seu bem estar e ego inflado.

E onde ficam seus parentes? Bloqueados, mas é óbvio, não? Vai que aquela tia cafona publica uma foto de um momento que te desfavorece? Meu deus! Não podemos deixar de falar dos comentários com mensagens que deveriam estar no inbox! E seus pais? São os culpados pelos traumas de infância como não ter te deixado ir conhecer os parques da Disneyworld, ou pela injustiça de não fechar a compra do seu celular novo ainda na pré-venda.

Quando eles serão lembrados? Nos feriados dedicados, nos momentos em que você ganhar um presente e quiser mostrar pros colegas no mural, aí eles tem direito a um espaço na tela do seu dispositivo e uma tag na rede social. Estou certo?

O apelo do autor é: viva além do LCD tátil. Você existe no mundo real também. Não dói ser normal, e olha a vantagem: nem precisa baixar atualização!

Atualizado em 03/2021
Foto por Sten Ritterfeld em Unsplash

Sobre o autor

Estudante de Jornalismo, apaixonado por livros e pelas curiosidades da cidade de São Paulo, além de ser co-fundador do Sobreviva em São Paulo. Em seu tempo livre, se arrisca na cozinha e escreve sobre suas experiências. É um pouco agitado demais e sempre mergulha de cabeça em muitos projetos simultâneos. Ah, e também escreve sobre saúde e nutrição na revista Men’s Health. “Com um bloquinho, uma caneta na mão há muita história pra contar”.

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