Aah..a Fantasia

Aah..a Fantasia

“ […] ‘Há um estigma inerente ao hábito de jogar. Costumávamos dizer que ‘os gamers são nossos até conhecerem garotas e irem para a faculdade’.’ Ele desviou o olhar. ‘O mundo exige que você cresça’.”
Tudo que um Geek deve saber – conversa do autor Ethan Gilsdorf com o game designer Jim Ward.

Quem nunca quis receber uma carta de Hogwarts, viajar com os hobbits pela Terra Média ou entrar em um guarda roupa e sair em Nárnia? Quem nunca quis, ainda que por poucos instantes, curtir aquilo que parece longe, nos livros, filmes, jogos… de pertinho?

Quem nunca quis viver em outro mundo?

É certo e inevitável que, ao crescer, as espadas que nós utilizávamos bravamente contra os mais ferozes monstros tornem-se meras réguas ou canetas, que o escudo transforme-se naquele pedaço de papelão no lixo e que o monstro feroz passe a somente saber latir. A vida é assim.

A vida chega pra você e te coloca claramente que todos aqueles perigos, todos aqueles tapetes que já foram lava, todos aqueles espaços pretos e brancos da calçada que podiam te matar e todas aquelas placas em arco que você passava e se sentia diferente, agora são meros objetos, simples e inanimadas partes da cidade.

Viver em uma cidade grande como São Paulo talvez possa te tirar isso mais ainda, pois as preocupações passam de grandes dragões invadindo o vilarejo para um grande fluxo no metrô depois das 18h00, e tudo parece minimamente calculado para te trazer até a realidade.

Você já viu aquelas crianças pulando no shopping (que para você agora são extremamente irritantes)? Elas estão naquele outro mundo que você queria estar, e que para você é um mero amontoado de lojas. O que será que dá na gente para crescer e deixar de lado essa noção de que tudo pode ser extremamente fantástico?

É lógico que a gente lê, joga, vê filmes, séries, e faz o que quer que seja para tentar escapar da bagunça que é o cotidiano, mas quase nunca isso é o suficiente. A questão é que nós, ainda que de maneira velada, temos um preconceito curioso em relação ao jeito que gostaríamos que nossa vida fosse.

Porque não saímos por aí como loucos vestidos com roupas de nossos heróis favoritos? Porque raramente alguém aparece sentado em uma vassoura com roupas pretas até o tornozelo e um desejo absurdo de ganhar a Copa de Quadribol? Porque nós mesmos sentimos que depois de certa idade a vida deixa de ser aquela fantasia gostosa de criança?

Talvez todos nós devêssemos passar por um curso de como ser criança de novo. Aprender novamente que o tapete é lava e que decididamente não podemos pisar nas linhas pretas para não morrer. A gente saberia que o Homem-Aranha realmente sobe paredes, e que a câmera não está virada, e finalmente transformaria a caneta em espada de novo para enfrentar mais fácil um monstro que pode ser bem difícil: a realidade.

E aí, já visitou outro mundo hoje? 😉

Atualizado em 02/2021
Foto por Shot by Cerqueira em Unsplash

Sobre o autor

Um cara que é estudante de jornalismo (quase) dedicado, com uma barba ruiva que só vê barbeador (bem) de vez em quando e que gosta de tentar entender o que se passa pela cabeça das pessoas. Meio maluco, mas se entende com a bagunça que é sua mente, gosta de videogames e quadrinhos e é aficcionado por buscar explicações (não) científicas do mundo em que vocês acham que ele vive. Tudo isso enquanto toma uma xícara de chá e ouve discos de vinil de várias décadas atrás.

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