Em São Paulo chove lá fora, e aqui…

Existem diversas maneiras de se observar São Paulo, as janelas proporcionam uma visão bonita da cidade, inclusive em dias chuvosos, tornam a cidade mais reflexiva e expressiva, como se a chuva que embaça a vidraça tivesse o poder de convidar o expectador para uma viagem por uma nova cidade, trazendo para o expectador um novo cenário; bonito de olhar. Uma boa chuva para os apreciadores de chuva é uma beleza. Destaca o cinza da cidade e colore ao mesmo tempo, os pingos nas janelas dos prédios cinzas, formam uma paisagem linda, digna de um quadro do Monet.

Arte: Aline Macedo.
Arte: Aline Macedo.

Devido a benção que vem sendo as chuvas para o povo de São Paulo, sim, mais uma contradição, como a terra da garoa (que é uma chuva fraca), falta tanta água. O período é de escassez de água, muito por conta da falta de organização das pessoas responsáveis, (Em meio à crise vendem água com desconto, em grandes quantidades para empresas) e o desperdício da população (lavar carro todo dia, banhos demorados, lavar quintal 3 vezes por dia, e por aí vai…) chuva nunca foi tão festejada, pena foi deixar a água bater na bunda para aprender, ou pior; não ter mais água para bater na bunda.

O que pode atrapalhar um pouco os boêmios, os festeiros e os penteados. Tirar o laque, a chapinha ou o Gel, molhar o vestido, sujar o salto, molhar o terno e encharcar as meias. Principalmente quando se tem aquela festa, ou aquele agito, o que é comum de moradores de São Paulo, afinal aqui é a terra do agito; mas também a terra da garoa, eventos a céu aberto ou compromissos distantes, exigem uma coragem maior e uma valentia. Sem pensar no transito que fica caótico (quase sempre está ruim). Nessa hora a preguiça se manifesta, é impressionante, ao cair do primeiro pingo de chuva no asfalto, seu corpo e mente já ficam uma moleza. Uma sensibilidade se aflora, a preguiça chega com tudo, aí fica difícil sair da inércia.

O ambiente gostoso da chuva proporciona um aconchego, ótimo para casais apaixonados e filme e pipoca. Traz uma nostalgia também, as lembranças de dias chuvosos sempre ficam marcadas, chove para acontecer algo, seja um dia mais tranquilo ou um bem agitado e molhado. A chuva na infância sobre tudo é muito divertida, traz um tom de aventura, desafios, e exige uma negociação na maioria das vezes, tomar banho de chuva é de uma rebeldia gigante quando se tem 11 anos, contradizendo a mãe que diz que a chuva vai lhe trazer um resfriado. Quando se cresce vê que tomar banho de chuva aos 25, 30 anos é de uma rebeldia ainda maior. Quase uma revolução, mas digo aquele banho gostoso, aquela coragem de brincar na chuva, chutar as poças, mergulhar no quintal e tomar banho nas cascatas que descem dos canos.

Mas nem tudo são flores, ou pingos lindos, tem gente que sofre, aqueles que não tem uma vidraça para olhar, esses sobretudo não têm opção, a chuva pode ser cruel, devastadora, causar pânico e sensação de invulnerabilidade total. Mas esse já seria um outro assunto.

Para a turma da bagunça a chuva aflora ainda mais a ansiedade típica dos paulistas; e para os que haviam programado aquele rolê por SP; o que fazer quando a chuva vem, quais as opções, para onde vou? Será que alguém vai? São as dúvidas que tomam conta, no lugar dos programas. Onde buscar aquela coragem da infância em tomar aquele banho de chuva, enfrentar os desafios de uma cidade que não foi pensada para chover, São Paulo foi programada para ser vivida exaustivamente, em um ritmo descomunal, agressivo, sem pausas, é uma máquina de criar oportunidades e lugares. Quando a chuva que não estava nos planos cai do céu, é como o estourar de uma crise, uma crise que vem para perturbar. E como toda crise, pensamos em como superar a crise e não na mudança de hábitos.

A cidade que nunca dorme parece ter uma pausa durante a chuva, talvez por isso garoe tanto, para dar pequenas pausas para essa grande cidade que nunca dorme, esfriar um pouco, se restabelecer, recuperar o folego que São Paulo precisa para continuar com seu agito e esse calor humano. Logo ela passa, são chuvas de verão.

 

 

Sobre o autor

Defini-lo é difícil, se diz Escritor e poeta, com formação e atuação nas áreas de comunicação, mas na verdade é apenas um rapaz latino americano, que escreve para se libertar de seus pensamentos. Procura transcrever com palavras o que seus olhos registram e o seu coração sente. Literalmente.

[fbcomments url="https://www.sobrevivaemsaopaulo.com.br/2015/11/em-sao-paulo-chove-la-fora-e-aqui/" width="100%" count="off" num="5"]