A história de SP contada pela Vila Itororó: um terreno de contrastes
Moradia, cultura, arquitetura e diversidade.
Grande parte da história do Bixiga e de São Paulo pode ser contada nos 4.500 metros em que se encontra a Vila Itororó. Dos tempos de pompa, à decadência de sua infraestrutura até formação do cortiço. Ainda hoje, o local respira o fôlego de cada época em suas ruínas e em sua constante revitalização. A Vila sobrevive.
Sem os encantamentos dos gloriosos anos 20 com o modernismo, tampouco com a alegria de uma população ativa vivendo apertada entre seus os cômodos. A Vila Itororó de 2017, é um canteiro de obras que ainda não têm uma função definida.
A Vila foi erguida inicialmente com o imponente casarão que Francisco de Castro construiu para dar elegância e notabilidade ao seu novo empreendimento. Francisco era médico, professor, orador e poeta. Com toda a sua bagagem deu ares pitorescos à arquitetura do lugar, com referências babilônicas, imperialistas e derivadas de toda mistura possível.
Foto do arquivo de Milu Leite em vilaitororo.org.br
O lugar cresceu e se tornou referência não só arquitetônica, mas também um ponto icônico da cidade. A Vila, que fica ao lado do Rio Itororó, localizado hoje abaixo da Avenida 23 de Maio, teve a primeira piscina privada de uso coletivo da cidade. Francisco fez de tudo para seu empreendimento prosperar com fama e prestígio. Funcionou muito bem até o seu falecimento. Francisco não deixou herdeiros.
Foto por Zé Carlos Barretta em Wikimedia Commons
Mil impasses acometeram a Vila Itororó. Dois tombamentos que acarretaram diversas burocracias para seus habitantes. Mesmo assim, o abandono foi eminente. Francisco habitava o casarão e alugava as outras residências, produzindo renda da própria moradia. A ideia dos moradores da Vila Itororó foi a mesma.
Para gerar renda cada família alugava cômodos, visando ter melhores condições financeiras. Formando um aglomerado de pessoas vivendo em cubículos mal projetados, com péssima estrutura de saneamento, ventilação e etc. A situação das casas já era insalubre quando, em 2006, os moradores foram desabrigados para que o local se tornasse um centro cultural.
Foto por Carolina Mello em Wikimedia Commons
Hoje a história continua a se desenrolar, mas há luz no fim do túnel. A restauração de alguns blocos está em andamento. A população da região participa de oficinas, eventos, aulas e consultas de psicanálise no galpão aberto com entrada na Rua Pedroso.
Os antigos moradores ganharam habitações populares na região, com o programa CDHU. Enquanto as obras de restauração continuam, é possível conhecer e presenciar um pouco desta história em uma visita guiada ao canteiro de obras. Você pode observar as antigas condições de moradia, a rica estrutura arquitetônica, as projeções para o futuro, e as indagações sobre como a Vila Itororó será ocupada.
Taniele da Silva Brito, 21, estudante de arquitetura da Universidade Estadual de Goiás, estava em uma visita técnica com a turma de seu curso. Ela acredita que no futuro o local deve oferecer um uso misto, desde a habitação à ocupação cultural de diversas formas. Para ela, “a Vila representa o que São Paulo é: contrastes”.
Vila Itororó
Visitas guiadas: Quintas e Sextas às 16h.
Sábados às 14h.
Entrada gratuita
http://vilaitororo.org.br/
facebook.com/vilaitororo
Atualizado em 03/2021
Foto de capa por Rodrigo.Argenton em Wikimedia Commons