Existe amor e ódio em SP
São Paulo é um lugarzinho complicado.
Escrevi essa frase e fiquei encarando-a durante um bom tempo. Todos nós sabemos dos problemas que nossa cidade tem. Até quem é de fora sabe dos nossos problemas. A poluição, as pessoas, o trânsito, o metrô… Não é novidade para absolutamente ninguém. Desde crianças que sonham em ver o Tietê com peixes até velhinhos que viram o Tietê com peixes.
É verdade que às vezes até os mais urbanos precisam dar uma pausa, colocar o pé na estrada, ir pra uma cidadezinha do interior e respirar um pouco de ar puro. Fazemos isso nem que seja para voltar para São Paulo e ter a certeza de que você não nascemos para cheirar esterco de cavalo.
Sim, São Paulo é um lugarzinho complicado, mas nós amamos isso aqui (talvez inconscientemente)! Nosso trânsito, nossos motoqueiros quebrando o retrovisor dos carros, nosso metrô com velocidade reduzida, os artistas que se apresentam na rua ou nos vagões, nosso clima louco, nossas sacolas da 25 de Março, nossos shows ao ar livre, nossas ciclofaixas, nossos hotdogs com purê de batata, vinagrete, ervilha, milho, duas salsichas e prensado por R$4, nossos hotdogs gourmet por R$50, nossos food trucks, nossas paletas mexicanas, nossa Paulista, nosso “se pá”, nosso “pode pá”, nossos péssimo plural, nossa noite, nossa Augusta, nossa Vila Madalena, nossa Feira do Rolo, nossa Sé, nosso Banespão, nossa bandeira tremulando lá no alto… Bom ou ruim, não importa: é nosso!
Nós, paulistanos de coração, reclamamos da cidade. É claro que sim! Mas só nós podemos reclamar. Ai se alguém de outro Estado dizer que é “biscoito” e não bolacha! A treta, nesse caso, está implantada com sucesso. Existe um certo prazer em discutir esse tipo de coisa. É bom saber que participamos de uma coisa viva e imensa como essa cidade. É nosso orgulho e, se fosse uma criança levada, apertaríamos suas bochechas (depois de uma bronca sobre os níveis de criminalidade. Que feio, São Paulo… Que feio!).
A relação de amor e ódio entre São Paulo e seus habitantes é algo curioso… Talvez devessem fazer um estudo a respeito. Pensando bem, acho que não… Não há o que pesquisar, porque amor não tem explicação.
Atualizado em 03/2021
Foto por Vinicius Löw em Unsplash
Sobre o autor
Gabriela Leão
Teve a ideia de criar o Sobreviva em São Paulo, foi lá e fez. Jornalista, trabalha com social media e gosta de uns rolês roots. Acampa no mato, sobe montanha e vive na selva de pedra. Já quis ser detetive, salvar o mundo e fugir com os ciganos. Tem uma relação de amor e ódio com São Paulo, fica para ouvir músicos de rua e corre para nunca chegar atrasada.