Carinho não gasta bateria

Carinho não gasta bateria

Que atire a primeira pedra quem nunca passou uma tarde de domingo inteira fechado no quarto, sem fazer absolutamente nada de diferente ou interessante. É comum. Às vezes nos basta (ou pelo menos achamos que basta) curtir o ócio previsível encontrado na reduzida quantidade de atividades diferentes disponíveis ali por perto da cama.
Quem dera as escolhas fossem ler um livro ou somente pensar enquanto se está parado, mas todos sabemos que decididamente isso não é mais tão comum.

Gostaria que alguém que está lendo esse texto me dissesse por quantos segundos durante um breve período sozinho na sala, no quarto ou onde quer que seja, não pegou o celular para fazer algo. Não importa se foi uma olhada no Whatsapp, no Instagram ou o que quer que seja. É automático, vivemos assim. Como se houvesse um pequeno alarme em nós mesmos que apita a cada 40 segundos sem olhar o celular, como se dissesse “Olhe! O aparelho está com milhões de mensagens, e-mails, vidas novas para os jogos!” E você atende prontamente ao chamado, muitas e muitas vezes ao dia, sem nem notar.

Agora pare para pensar só um minuto no que acontece ao seu redor. Você se lembra do que sua mãe, seu pai, tio, irmã, vizinho, namorada ou seja lá quem for estava fazendo enquanto você lia aquela mensagem que seu amigo ou amiga te enviou sobre a festa de sexta-feira? Posso apostar que não. E digo isso pois eu também não me lembro! Não serei hipócrita. Eu também tenho o ‘’bip’’ em minha cabeça, que não cessa enquanto não aperto o botão de desbloqueio e vejo se há algo novo. O pior é que às vezes eu sinto o aparelho vibrar, sendo que isso nem ao menos aconteceu.

A questão é que cada ‘’bip’’, cada vez que o botão de desbloquear a tela é apertado, é um pequeno pedacinho do mundo que fica perdido em meio ao brilho daqueles pixels. É uma chance que se perde de dar um abraço, de fazer algo para ou por alguém, de dar uma risada, fazer uma piada, ou pior, se você for um pai, você pode estar perdendo momentos preciosos da vida de seu filho. Ele só cresce uma vez…
Pense nisso: esse alerta em você te deixa mais sozinho.

Nós, seres humanos, aprendemos desde pequenos que a comunicação é algo de extrema importância, mas com o tempo limitamos nossas maneiras de se comunicar a simples toques na tela e letras em balões verdes e azuis.
A comunicação é mais que isso, mais do que verbal. Quando foi a última vez que seu celular te fez um cafuné ou te deu um abraço?

Porque não renovar as relações assim como renova-se urgentemente a bateria quando ela atinge os temidos 10%?

É preciso esquecer um pouco o mundo preso ali dentro da tela. Há muito mais lá fora, logo ali, na sala ao lado. Esqueça o ‘’bip’’ na sua cabeça! Curta as outras pessoas além das mensagens. A vida é muito mais do que isso! As letras na tela vão te deixar sozinho quando chegar a 1%, mas uma boa conversa, um cafuné, um monte de pelos de gato no seu colo e milhares de beijos, abraços e gargalhadas decididamente não gastam bateria.

Atualizado em 02/2021
Foto por User2890345217 em Pixabay 

Sobre o autor

Um cara que é estudante de jornalismo (quase) dedicado, com uma barba ruiva que só vê barbeador (bem) de vez em quando e que gosta de tentar entender o que se passa pela cabeça das pessoas. Meio maluco, mas se entende com a bagunça que é sua mente, gosta de videogames e quadrinhos e é aficcionado por buscar explicações (não) científicas do mundo em que vocês acham que ele vive. Tudo isso enquanto toma uma xícara de chá e ouve discos de vinil de várias décadas atrás.

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