O doce toque da Sinestesia

O doce toque da Sinestesia

Sinestesia: figura de linguagem ou semântica que designa a junção de planos sensoriais diferentes; cruzamento dos sentidos; qualidade de um sentido atribuída a outro.

Na minha humilde opinião, mais do que a metáfora, a comparação e todas as outras figuras tão usadas na linguagem poética, a sinestesia tem uma beleza própria, humana.

Não, eu não sou um entusiasta doentio da gramática (ou talvez eu seja?) que fica medindo quesitos em pontos específicos da língua portuguesa, pelo menos eu acho que não…
A questão é que poucos aspectos da ortografia são tão próximos de nós quanto a sinestesia.

Sinestesia: relação psicológica espontânea (que varia de acordo com o indivíduo) entre relações de caráter diverso similares na aparência

Sabe aquele cheiro de quando você chega para almoçar na casa da vovó ou daquela pessoa da família que sempre pilota o fogão? Então…você quase consegue sentir agora quando pensa, né?

Racionalmente, você entende que aquele cheiro vem da panela na qual estão sendo refogados o alho e a cebola, ou do tempero especial do molho de tomate, do bolo, do café. Mas quando você sente, decididamente aquele aroma não está vindo de nenhum desses lugares, ele é simplesmente o cheiro daquele lugar. Isso é incrível.

Aquele cheiro significa algo para você que provavelmente não é o mesmo para outra pessoa. Um exemplo prático: se o cheiro de alho te lembra a casa da sua avó, é bem capaz que não lembre a mesma coisa para um chef de cozinha, que sente esse cheiro o tempo todo.

Isso tudo – essa relação das palavras com os sentimentos – significa muito para todos nós, e faz com que certas coisas fiquem melhores ou piores, inclusive. Pessoas podem ser doces ou amargas, objetivos podem ser palpáveis, e mesmo assim é tudo extremamente abstrato.

O ósculo tornou-se beijo simplesmente por ser mais gostoso, como aquele pudim de sexta feira. A gente busca uma vida mais gostosa, livros, músicas, de tudo a gente quer o mais gostoso. E o que é..gostoso?
Quem apontou um dia e disse: “Cara, isso aqui é gostoso porque é assim”? Nós não entendemos, nem nunca entenderemos.

No fim o que importa é que a gente sente, a gente vive essa coisa maravilhosa que é a sinestesia. Nós tocamos corações, sentimos o cheiro das mais variadas formas de felicidade e saboreamos textos como esse, que eu espero que para vocês tenha sido uma delícia, igual àquela torta de maçã na geladeira.

Atualizado em 02/2021
Foto por Raphael Brasileiro em Unsplash

Sobre o autor

Um cara que é estudante de jornalismo (quase) dedicado, com uma barba ruiva que só vê barbeador (bem) de vez em quando e que gosta de tentar entender o que se passa pela cabeça das pessoas. Meio maluco, mas se entende com a bagunça que é sua mente, gosta de videogames e quadrinhos e é aficcionado por buscar explicações (não) científicas do mundo em que vocês acham que ele vive. Tudo isso enquanto toma uma xícara de chá e ouve discos de vinil de várias décadas atrás.

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