O Trem.

Fonte: CPTM
Foto: CPTM

O trem chega na estação, horário de pico, já se nota aquele mar de gente dentro do trem, a pessoa entra ou é conduzida involuntariamente pelos demais passageiros, que estão ao seu redor, para o lado interno do trem, que de alguma maneira recebeu ainda mais gente naqueles metros quadrados que parecia não caber nem ar mais, as mochilas e objetos tem que ir no chão por educação, dividem espaço com alguns mais cansados que sentam nos cantos, escorados pela porta como se estivessem no tapete de casa, sem o conforto.

O barulho não deixa a volta para casa tranquila mas, tem os que dormem, não resistem as viagens, trens fazem caminhos longos que superam passeios ao litoral. Lotação máxima no horário de pico, os cartões de ponto estão sempre ali na mesma hora, os bilhetes na mão a mochila do lado. Preparação para embarcar no trem, repetir toda a caminhada de volta para a casa, todo dia o mesmo percurso, que não se torna banal pelas surpresas do trem, quase sempre negativas, atrasar o ponto é ruim, andar no trilho também. O pensamento vai longe no trem, tem que leia, escute música e estude, para não fazer daquele tempo no trem uma total perda de tempo. Obrigação diária que cansa mais que viajar o percurso todo de pé. Parece que se fica mais tempo no trem do que em casa. Será que não fica?

No trem não tem crise, existe um comercio forte com uma economia fortalecida pelo desemprego, o “shopping trem”, já se escuta os anúncios de:  “só comigo é mais barato”. Tem de tudo, uma verdadeira feira gastronômica e tecnológica, com itens domésticos e os mais variados e imagináveis objetos. É uma indústria fortíssima e muito digna, que reflete a criatividade e ousadia do Brasileiro. Que tem que vender um produto em alguns minutos tomando cuidado com as leis que não permitem que ele bata ali seu ponto e cumpra seu horário. A clássica frase “Poderia estar matando ou roubando” nunca foi tão precisa. Trabalhar no trem não é para qualquer um. Tempos atrás tinham alguns cachorros, hoje eles não querem mais frequentar esse lugar.

O “shopping trem” em paralelo com os shoppings convencionais, (aqueles com lojas de grife e repletos de coisas desnecessárias para a vida de quem frequenta) estuda melhor seu consumidor e oferece chocolate as 18:00, sucesso de vendas. Inova com tecnologias e objetos que facilitam a vida como descascador de batata por exemplo, vejo astucia ao oferecer pen drives e carregadores, pessoas perdem e esquecem isso o tempo todo. É o shopping da vida real, só falta o cinema e os cheiros das lojas, aqueles perfumes que exalam marcas e mostram conceitos, essências que deixam o consumidor entender aquela marca através de um cheiro. Bom, no trem o filme das janelas depende da estação, pode pegar um filme bonito até, ou umas cenas tristes, já o odor não é o forte do marketing do trem, se der azar pode pegar cheiros fétidos que te trarão sensações ruins, rios sujos e fedidos também são o cinema 4d, com paisagem e cheiro. No trem também passa cartão, bilhete único, só não parcela, mas nem precisa, pois, o sucesso é garantido, sempre parece estar em liquidação, lotação máxima.

São transportados todos os dias milhões de sonhos e realidades de um lugar para o outro, muitos levam do inferno ao paraíso, outros do paraíso ao inferno, em longas viagens que vão muito além de uma estrada de ferro, que já é rotina para o cidadão, cliente vitalício do trem. Que ainda não foi reconhecido como importante, vive sempre torcendo pela melhora, com a sensação de nada poder fazer. Só sabe que não pode cair se não o trem passa por cima.

Sobre o autor

Defini-lo é difícil, se diz Escritor e poeta, com formação e atuação nas áreas de comunicação, mas na verdade é apenas um rapaz latino americano, que escreve para se libertar de seus pensamentos. Procura transcrever com palavras o que seus olhos registram e o seu coração sente. Literalmente.

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