São Paulo: capital mundial do grafite

São Paulo: capital mundial do grafite

Em meio à repressão militar e censura aos veículos de comunicação e as artes em geral, surgiu na capital paulista um movimento político cultural, o grafite

Como forma de protesto contra o governo militar, o artista etíope radicado no Brasil, Alex Vallauri, foi responsável pelos primeiros grafites na cidade de São Paulo, em 1980, época em que o grafite era considerado crime pela legislação brasileira. Um de seus primeiros desenhos no Brasil, foi o “Boca com Alfinete”, uma referência à censura contra as artes e os meios de comunicação.

As obras de Vallauri se tornaram referência para praticamente todos os artistas posteriores e a data de sua morte, 27 de março de 1987, virou o Dia do Grafite no Brasil.

A origem do grafite é fruto de um movimento de contracultura que surgiu em Paris em 1968, onde seus adeptos escreviam mensagens de cunho político nos muros da cidade.

“O grafite pode ser usado, como toda arte pode ser usada, como protesto. A visibilidade do grafite é mais popular, mas ele não tem obrigação de nada, ele é livre!”, diz o grafiteiro “Dego”, chamado Iommi Edgar, de 28 anos.

Por conta de sua relação íntima com a arte urbana, São Paulo é considerada a capital mundial do grafite. Além da capital paulista, outras metrópoles são referências para o movimento no mundo, como Los Angeles, Londres, Madri e Nova York.

Mulheres no Grafite

O grafite pode ser uma ferramenta de empoderamento feminino e ativismo político das mulheres e cada vez mais notamos a presença feminina nesse meio.

A grafiteira Caroline Araújo, por exemplo, começou a se envolver no mundo do grafite depois que descobriu que estava com depressão, no ano de 2014.

“Na época eu estava em tratamento terapêutico e psiquiátrico, pois passava por um processo depressivo bem delicado e tendo constantes crises de pânico. Então recebi o convite da Gabriella Ribeiro para participar das ações do coletivo Olhares Urbanos como ajudante e aprendiz de grafiteira. No início foi bem difícil pra mim sair dessa ‘caixinha de sentimentos inseguros e medos’, muitas vezes quis desistir por acreditar que eu não era capaz. Ao longo desses anos e de muitos processos artísticos que, inconscientemente, trabalhavam minha insegurança e meus medos, fui me libertando”, diz Caroline.

O coletivo paulistano Olhares Urbanos, é uma ação de um grupo de mulheres artistas interessadas em movimentar questões sócio culturais, promovendo ações em espaços alternativos e públicos da cidade e tem como fundadoras as artistas plásticas Gabriella Ribeiro e Andreia Correia e a fotógrafa Gisele Silgom, e também integram o grupo, as artistas Sandra Moreno, Caroline Araujo, Raiane Oliveira e Kelly Santos, além do músico Silvio Caminata.

Caroline diz que mesmo dentro do movimento, percebe comportamentos machistas, como em qualquer âmbito da sociedade, mas que a inserção das mulheres na comunidade do grafite não se trata de um confronto de gênero, mas sim uma maneira de empoderamento e necessidade da mulher também se apropriar da arte de rua.

Quando questionada sobre os valores e objetivos do grafite em sua vida, Caroline diz: “Nossa arma é a arte e nossa meta é a dignidade de uma vida melhor”.

Atualizado em 03/2021
Foto por ckturistando em Unsplash

Sobre o autor

Gabriela, 23 anos, devoradora de livros e futura jornalista.

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