Conto sobre a saudade

Conto sobre a saudade

O A da Saudade.

Alexandre acordou novamente com aquela dor que o incomodava há dias.

Os médicos não conseguiam explicar, diziam ser o stress do trabalho. A vida na cidade não era fácil e a doença da moda era a depressão. Doença essa causada por muitas horas de trabalho, brigas, problemas mal resolvidos e outros fatores. Os médicos diziam ser a doença do século.

As dores vinham com longas pontadas no lado esquerdo do peito, bem perto do coração, que chegavam a tirar noites de sono de Alexandre. Noites mal dormidas seguidas de fartas doses de Whisky. Nessas noites, restava a Alexandre apenas o fundo transparente de seu copo vazio.

Os amigos sabendo do caso, diziam tratar-se de uma paixão mal resolvida, de paixão à primeira vista, ou um grave caso de amor. Um daqueles casos que nos tira do chão, que nos da vontade de gritar e que mais tarde vem seguido de fortes dores de cabeça. A verdade é que Alexandre não estava mais amando e nem apaixonado, porém ele não negava que sentia saudade de Amanda.

Amanda tinha sido a última namorada de Alexandre. Uma bela garota que ele conheceu nos corredores do seu trabalho. Amanda, loira e baixa, com olhos claros, que era o oposto de Alexandre: moreno, alto e olhos escuros. Formavam um belo casal e o contraste que eles passavam era algo surreal. Foram descobrindo que havia muitas coisas em comum. O gosto por filmes ruins, comida congelada e passeios ao parque nas tarde de domingo. As coisas entre eles eram tão em comum que com o passar do tempo, à relação foi esfriando, não havia emoção nos filmes ruins ou nas tardes de domingo com comida congelada.

Alexandre sente saudade de Amanda. Pensa nela em todos os momentos, nas coisas que faziam juntos, nos planos que fizeram, pensa no porquê de não ter dado certo e se vale a pena ir atrás de Amanda, que foi procurar aventura viajando para a Argentina.

Nessa época faz frio na Argentina, muito frio e talvez no frio, a dor diminua. Diminua a ponto de sumir, desaparecer para sempre. Alexandre sente saudade de Amanda.

É domingo um bom dia para passear no parque. Alexandre decidiu sair para tomar um ar, porque o Doutor disse que pode ajudar com as dores. O passeio no parque faz lembrar a saudade que Alexandre sente de Amanda, o mesmo parque as mesmas árvores, testemunhas de vários romances.

Quantos romances as árvores já viram debaixo de suas copas? Milhares, com certeza. Pensou Alexandre, mas o seu romance com Amanda foi diferente. Alexandre sente saudade de Amanda.

Andando pelo parque Alexandre sentiu uma dor forte, agora a dor toma conta de todo seu corpo. De repente a dor some. Volta uma dor fulminante, a ultima pontada no lado esquerdo do peito, na altura do coração. Alexandre cai morto ali mesmo embaixo de uma árvore, ela testemunha de muitos romances, agora testemunha sua primeira morte. Alexandre sentia saudade de Amanda.

Na hora do médico dar resultado da morte, ficou constatado que foi o primeiro caso de morte por saudade. Causa da Morte: Ataque súbito e fulminante de saudade.

Alexandre sentia saudade de Amanda.

Atualizado em 03/2021
Foto Thomas Kinto em Unsplash

Sobre o autor

Estudante de redação publicitária, Semi Deus, ponta esquerda, gênio de vez em quando e apaixonado pela arte do churrasco de rua. Escreve sobre os lugares legais e baratos para visitar na cidade de São Paulo. Apaixonado por futebol e música, um dia viaja para a Rússia para comer neve.

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