Os dias em que a cidade não serve

Os dias em que a cidade não serve

O clima não é quente, mas também não é frio.

No barulho do trânsito, o silêncio é compassado pela música do meu fone. Já no metrô peguei um livro meloso qualquer para ler, depois de tentar juntar as letras da mesma página por algumas estações a fio – Conceição, Santa Cruz, Brigadeiro –  larguei as folhas amarelas, deixei apenas a música tentar fazer sentido na cabeça, olhar o dia cinza de ipês rosas com algum resquício de harmonia.

Tem dias que não importa o quanto queira calma, o ritmo apenas não pode desacelerar, o devagar não existe. É nesse momento que  me sinto mais lenta, incomodada sem saber onde vou terminar.
Não sei quando atropelei, mas no meio de tanta escada em pinheiros, certeza que fui atropelada. Trucidada aos poucos pela truculência de cada dia em cada nova rua sem muita vida, com saudade da risada pura que não foi captada apenas para ser postada no fim do dia.
Corri pela cidade igual a todos os outros dias, cumprimentei o segurança de sempre, sem nunca saber realmente seu nome. Sentei na cadeira, de braços apoiados na mesa olhando pela primeira vez a paisagem de fora. Uma árvore, uma árvore linda dançando com o vento sem nunca se preocupar, apenas uma, e ela hoje é mais habituada que eu em toda essa loucura que insiste em ser a única música a nos tocar.

São Paulo tem dessas , em um dia te abraça e no outro cospe sem pestanejar.

Atualizado em 03/2021

Sobre o autor

Escrevo mesmo sem saber dos acentos. Danço, mas perco o ritmo fácil. Gosto das fotos desfocadas, parece que de algum jeito doido combina com a zona da minha cabeça.

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