Escolher o caos e ser feliz por ficar
Tenho pessoas no coração frustradas pela nossa rapidez, outras que fugiram para o mar apenas em busca de um pouco de silêncio. As vezes tenho a impressão que qualquer outro lugar pode me abraçar melhor do que todo esse caos… Mas para o bem ou mal, hoje é aqui que decido ficar.
A falta de conexão criada pela montoeira de muros causa aflição em qualquer momento da vida, me irrita nosso egoísmo quase que histórico e a falta de sintonia fora das zonas pré-delimitadas.
Entre o papel de parede recém trocado e o piso lustrado no exagero, o vidro da enorme janela me mostra o quanto corremos pelo dia, atropelamos as horas e perdemos nossa noção própria.
Mas sabe, fiz desse asfalto gasto minha casa.
Encontrei beleza em alguma construção por ai abandonada.
Valso no metro lotado, brinco no meio do transito chato.
Rio da enxurrada de pessoas ao meio-dia em nossas tantas calçadas largas.
Poderia escolher qualquer outro ambiente, mas é aqui que reside minha vontade de ficar, fazer parte e poder ajudar. Diminuir alguns muros e me perder em meio ao novo que posso ainda que perdida encontrar.
Se a cidade é louca, então estamos de parabéns! Somos os pacientes desse manicômio com patente crônica sem cura, luas escuras com dias hora escaldantes hora cinzas, mas que sempre borbulha no barulho que não perde estímulo. Primavera, inverno, outono e verão tudo no mesmo dia.
Tenho o mundo descoberto da grande janela do meu trabalho, caos incendiário ao me encontrar no meio de tantos sotaques considerados errados.
Não sei me enraizar em lugar algum, mas decidi por hora transformar essa bagunça toda na casa para onde voltar.
Atualizado em 03/2021
Foto por Kaique Rocha em Pexels