Mano, para de reclamar!

Mano, para de reclamar!

Tenho escutado que em São Paulo não tem amor.

Olha tem muita coisa errada, mas meu assunto hoje é outro.

E você não vai entender amor enquanto estiver no carro sozinho, de vidros escuros e fechados.
Fechado não só para o que ocorre no exterior, mas fechado para a vida, e fechado para o que eu possa te apresentar agora.

Parece estranho mas já vi amor naquelas demonstrações de respeito as 9h no metrô. No moço educado que sempre me deseja um “bom dia”, eu estando toda arrumada ou com cara de “acordei agora, não encosta”.To te puxando a orelha mas também serve muito para meu dia a dia. Acostumamos a levantar muros, e só essa questão de muro já me deixa irritada, sendo eles sentimentais ou de concreto não existe quem me convença a gostar deles, mas isso é papo para outro dia, outra cerveja, vinho ou sorvete onde eu possa dar vazão a urbanista desmiolada que não consigo enterrar.
Enfim, a gente tá muito acostumado a levantar esse bendito muro para quem senta do nosso lado do ônibus, pra quem está no mesmo m² do metrô, desacostuma até a ter alguém olhando a mesma prateleira na livraria. E nossa… Isso tá muito errado.

Eu mesma fujo de lugares onde possa dividir meu ar com muita gente. Mas tudo isso para que? Eu sei que virou costume ficar sozinho e não confio em quem não saiba ficar em silêncio tranquilo olhando da janela o nada.

Eu sei que tem muita coisa na sua cabeça, mas sabe quando do nada alguém te sorri e você fica até perdido? Não sabe né?! Estamos perdendo isso, e é exatamente esses sorrisos no meio do nada que tenho encontrado pela cidade, as vezes vem do outro, as vezes é meu próprio reflexo.

Quando você decide ver o lado bom ( e entenda que isso é ver o ruim também), alguma criatura na baldeação do metrô vai te sorrir, algum doido vai dar a passagem para o seu carro, ou parar antes da faixa de pedestre só para você exercitar as pernas de um lado para o outro.

– E se nada acontecer Gabriela, e se isso for romantização sua?QUE SEJA! Me deixe ser a romântica da história e para de ser chato. Aliás, te desafio então a ser o cara que da passagem, que sorri no meio da rua para o estranho e não tem medinho de parecer doido. E qual o problema de ser doido gente? Já perderam as esperanças comigo, falo sozinha mesmo, dou risada do nada, canto no vagão ( mas juro que to me controlando… To tentando), mas confia que bancar as vezes o doido, alem de dar certo acalma a alma, afasta o povo de mau humor, ou contagia, sei lá eu…Eu amo (olha a palavrinha ai de novo minha gente), esse clima de outono que tá chegando, saio de casa e logo de cara já sinto aquela rajada forte na cara dando bom dia. É mais um tapa, mas é minha forma alucinada de achar que a cidade está de fato me desejando um dia legal e levar a semana na boa mesmo que role uma rosnada ou outra para alguém. A cidade expele amor se você estiver disposto a perceber, o querer já é meio que suficiente em alguns momentos.Então, da próxima vez que você quiser reclamar do transito, do metrô, do ônibus, do farol, do seu trabalho e de todo o resto, experimenta parar de reclamar, olha como mesmo na desorganização e esse monte de vidro, as vezes, parece que esse tanto de prédio funciona com o nosso céu, nossa mania de andar correndo funciona com o nosso ritmo. Para de querer comparar outras cidades, pare de querer sossego as 14h de uma terça-feira, porque desculpa, isso não vai rolar e você só vai ficar com (mais) cara de chato.

Eu também sou um porre, uma fuga no almoço para o mato mais próximo, um livro meloso ou chocolate muitas vezes me resolvem, mas ganhar um sorriso do nada… Ah, isso me derruba!

Atualização 03/2021
Foto: Shutterstock

Sobre o autor

Escrevo mesmo sem saber dos acentos. Danço, mas perco o ritmo fácil. Gosto das fotos desfocadas, parece que de algum jeito doido combina com a zona da minha cabeça.

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