Meu cabelo crespo.

Arte: Aline Macedo.
Arte: Aline Macedo.

O cabelo crespo (classifica-se crespo, todo aquele que não é liso, seja ele afro, enrolado, encaracolado, black, ou careca raspado) sempre foi alvo de críticas, deboches e bullyng como chamam hoje.

Uma época cruel é a infância, principalmente onde sofrimento é grande, e não se sabe o motivo. Que criança é cruel, eu nunca acreditei. Criança educada não. Falar besteira, grudar chiclete, arrumar briga, não ter uma noção e discernimento sobre o que é certo ou errado e cometer erros é coisa de criança. Mas quando ela acha “Feio” o cabelo crespo ,e pior, ache o seu próprio cabelo CRESPO feio, isso não é crueldade, é falta de educação.

Foi construído uma imagem de beleza de acordo com padrões Globais e europeus, e foi empurrado para nós que qualquer coisa que fuja disso é feio, ou em alguns casos é errado. Vejo casos de pessoas sendo presas, agredidas ou não arrumando emprego, pela sua opção de cabelo, o cabelo Black ainda é tabu. Infelizmente.

O cabelo crespo é música, Sandra de Sá canta: “meu cabelo enrolado, todos querem imitar” Roberto canta: “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, Chiclete: “cabelo embaraçado, encaracolado” ou até Gal: “cabelo, cabeluda, descabelada”. Nessas letras podemos perceber como o cabelo crespo tem charme, tem poder, tem movimento, todos querem copiar, todos querem fazer música.

Domina-lo é difícil, exige cuidados, e ao contrário do que pensam é difícil manter, difícil achar produtos, difícil achar cabeleireiros, difícil conviver resistindo a facilidade de alisar e pronto. Mas quando resistido ele te dá poder, te mostra o caminho, te deixa mais forte, como Sansão, acho que Sansão tinha cabelos crespos para ter toda aquela força. E como pode ser considerado ruim?

O cabelo crespo expressa personalidade, o movimento, a fácil adaptação, o poder de mudar várias vezes no mesmo dia se quiser. E ainda não é repetitivo, chato, cansativo, monótono e igual. Cabelo crespo é respeito, é atitude.

Se fossem estilos, o liso seria realismo, fotografias, um quadro, conservadorismo, uma opera sem espaço para o improviso, uma coisa clássica. O crespo seria ousado, vanguarda, cores quentes, cubismo, surrealista, um quadro de Dalí, o Rock puro, a cadência de um samba, ou as guitarradas de Jiimi Hendrix.

Cabelo crespo também pode relatar suas raízes, raízes africanas na maioria das vezes, o que deveria ser um orgulho. Ainda mais para nós brasileiros que nos gabamos de ser uma mistura. Temos avós espanhóis, portugueses, italianos, índios e africanos. O gene do cabelo crespo é dominante, logo se vê que ele é mais forte.

Cabelo crespo é que é bom, mais forte, mais bonito e mais brasileiro.

Sobre o autor

Defini-lo é difícil, se diz Escritor e poeta, com formação e atuação nas áreas de comunicação, mas na verdade é apenas um rapaz latino americano, que escreve para se libertar de seus pensamentos. Procura transcrever com palavras o que seus olhos registram e o seu coração sente. Literalmente.

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