Nove versões de Trem das Onze

Nove versões de Trem das Onze

Composto por Adoniran Barbosa (☆1910 – ✚1982) e interpretada pelo grupo paulistano Demônios da Garoa em meados dos anos 60, o samba “Trem das Onze” tem uma letra leve, simples e simpática, que reproduz a fala de um homem para sua amada. A canção tornou ainda mais famoso o distrito do Jaçanã, localizado na zona norte da capital paulista. Vale dizer que, logo após ter sido cantada pelos Demônios da Garoa, a música teve grande repercussão e foi vencedora de um concurso musical no Rio de Janeiro, o que a ajudou a ganhar sucesso nacional e marcar definitivamente a carreira de Adoniran, que veio a obter enorme popularidade na época. Sendo assim, “Trem das Onze” começava a se tornar um clássico da música brasileira e, de quebra, uma das músicas mais representativas da cidade de São Paulo.

Reflexo de todo esse sucesso são as inúmeras versões que a música ganhou ao longo do tempo, por sambistas e artistas de outros gêneros musicais. Abaixo, o Sobreviva em São Paulo lista apenas algumas dessas versões. Umas são conhecidas, porém, outras nem tanto. Tem “Trem das Onze” nas versões MPB, rock, reggae… Enfim, vale a pena ouvir e apreciar essa simples amostra das várias roupagens que o samba mais famoso de Adoniran Barbosa ganhou. Bom divertimento!

Nada como começar nossa pequena viagem musical pelo incrível universo de “Trem das Onze” ouvindo a versão original, com a voz rouca do próprio Adoniran:

 

Agora sim, a versão mais conhecida de “Trem das Onze”, que foi responsável pela popularização da canção: a versão dos Demônios da Garoa. Aliás, vale dizer que o grupo surgiu em 1943 e está na ativa até hoje, mas com uma formação diferente da original, é claro. Os Demônios da Garoa são conhecidos por serem os maiores intérpretes de Adoniran Barbosa, pois, ao longo de sua carreira, já gravaram inúmeras músicas do sambista.

Assim como os Demônios da Garoa, Os Originais do Samba são outro grupo representativo da velha guarda do samba nacional. Criado no Rio de Janeiro por ritmistas de escolas de samba na década de 60, o grupo também já passou por várias mudanças em sua formação e tem em seu repertório grandes sucessos, como “Do Lado Direito da Rua Direita”. Um fato curioso sobre a banda é que o saudoso “trapalhão” Mussum (☆1941 – ✚1994) fez parte da formação original do grupo, mas teve que abandoná-la para compor o elenco do humorístico “Os Trapalhões”, no começo da década de 70.

Figura icônica do samba carioca, Zeca Pagodinho foi outro que se rendeu aos encantos de “Trem das Onze”. A versão que você vê e ouve abaixo é faixa do CD e DVD Multishow Ao Vivo Zeca Pagodinho: 30 anos, Vida que Segue (2013), um dos inúmeros trabalhos bem sucedidos de Zeca.

Outra carioca que deu seu brilho particular pra canção de Adoniran foi a “madrinha do samba”, Beth Carvalho. A cantora e compositora gravou, em 1993, um CD em homenagem ao samba paulista. Era o álbum Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo, que era composto por diversas músicas de autores paulistas, que a sambista fez questão de homenagear. Claro que Adoniran Barbosa não poderia ficar de fora da homenagem, e Beth gravou não só sua versão de “Trem das Onze”, mas também versões de outras músicas do autor, como “Iracema” e “Saudosa Maloca”.

Tem “Trem das Onze” também na versão MPB, com dois “monstros” do gênero dividindo o protagonismo nos vocais: Caetano Veloso e Maria Gadú. A versão, tocada pela dupla no típico estilo “voz e violão”, faz parte do álbum Caetano e Maria Gadú Multishow Ao Vivo, lançado em 2011 em CD e DVD.

Quem disse que rock ‘n’ roll não se mistura com samba? Muito pelo contrário! O Huaska tá aqui pra provar isso. O quinteto paulistano de rock fez sua versão (muito legal, diga-se de passagem!) de “Trem das Onze”, com direito a guitarra distorcida e refrão cantado a plenos pulmões, mas sem deixar de lado traços típicos da música brasileira. Aliás, vale citar ainda que o Huaska gravou outros clássicos da música nacional, como “Chega de Saudade”, de Tom Jobim, e “Tristeza”, de Haroldo Lobo e Niltinho, com arranjos que também fazem jus ao estilo do bom e velho rock ‘n’ roll.

A Orquestra Brasileira de Música Jamaicana (OBMJ) é uma big band paulistana que conta com 9 músicos em sua formação e é conhecida por tocar músicas brasileiras em versões quase sempre instrumentais e em ritmos oriundos da Jamaica, como ska, reggae, rocksteady e dub. Os caras já têm três álbuns gravados, sendo que os dois primeiros são baseados nas versões que eles fazem para outras músicas, e apenas o terceiro foi feito só com composições próprias. É claro que “Trem das Onze” não poderia ficar de fora do imenso repertório de versões “jamaicanas” da OBMJ, né? Olha só como ficou o clássico do mestre Adoniran na versão dos caras, que é uma das poucas faixas do álbum Volume II, o segundo do grupo, que foi gravada com voz:

E, pra finalizar, o Sambô é outro grupo paulista que é famoso por fazer covers com arranjos bem diferentes das versões originais. Mas, diferente da OBMJ, a banda de Ribeirão Preto transforma músicas conhecidas do rock ‘n’ roll e do pop rock, nacionais e internacionais, em samba. Pra se ter uma ideia, “Sunday Bloody Sunday”, do U2, e “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, são algumas das músicas gringas que ganharam sua versão samba pelas mãos dos caras. Porém, eles não deixam de regravar também sambas de outros compositores, como foi o caso de “Trem das Onze”, faixa de Pediu Pra Sambar, Sambô, 3º álbum deles, lançado em 2015.

 

 

 

Sobre o autor

Publicitário, especializado em Marketing e Comunicação Integrada. Amante da vida, encantado por pessoas e suas singularidades. Fã inveterado de filmes de terror, ouvinte assíduo de música jamaicana e rock pesado. E, claro: Vai, Corinthians!

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