Meu bairro, Casa Verde, Zona Norte, São Paulo
O sol agora está contemplando as belezas da Casa Verde, é possível ouvir o canto dos passarinhos alegres, que observam as pessoas com seu paço lento indo em direção as tradicionais feiras, onde todo dia é dia de feira. O bairro poderia ser tradicional só pela quantidade de feiras, mas não é isso que define todo o seu charme. Tem por aqui alguma coisa no ar, como um cheiro típico de comida caseira, aquele cheiro que você reconhece em qualquer lugar. O cheiro da Casa Verde é inconfundível.
Muito mais do que cheiro e feiras, existe uma atmosfera que também é inconfundível, todos os seus bares e padarias são verdadeiros lares de muitos típicos paulistanos, por aqui a tradição continua, de manhã aquele pãozinho, depois do expediente aquela cervejinha para relaxar, sem falar que por aqui é possível fazer uma fezinha nos bares e padarias, os estabelecimentos mais requisitados são os que estão repletos de cachorro, gato, pavão, rato, galo entre outros. Sinuca, baralho e domino são companheiros das tardes ensolaradas e chuvosas e as baladas e sambas acompanham as madrugadas apostando quem consegue vencer o crepúsculo.
Comprar um pãozinho é uma experiência confortante para os dias de ansiedade, é possível encontrar pelo caminho aqueles amigos que não se vê a tanto tempo, companheiros de escola, de futebol ou do salão de beleza, uma conversa aqui nunca é desperdiçada, mesmo que no meio da rua, em frente a padaria, banca de jornal ou pizzaria. A pizza pode ser a comida mais pedida do bairro, tem tantas pizzarias que nem se sabe qual ligar, chegando até a ter pizzarias porta com porta.
Suas limitações não são definidas por convenções ou mapas, Casa Verde é extensa, tem até duas vertentes, Alta e Baixa. Não se ligue nisso, quem é da Casa Verde é da Casa verde. Dentre suas ruas e avenidas existem muitas “quebradas”, cada lugar uma resenha, uma gíria diferente. Sua mistura de culturas chega a ser tão gritante quanto na cidade toda de São Paulo. Helicópteros e bicicletas circulam em perfeita harmonia.
Na CV tem muito trabalhador sim, aqui cada um dá seu jeito, faz seu “corre”, até o fim do expediente, alguns largam cedo, outros bem tarde, mas no fim das contas a volta para sua “goma” é sempre um momento especial, na volta podemos ver alguns dos mais tradicionais veículos na condução de pessoas, o glorioso 971V Center Norte, que passa um pedaço da Casa Verde, onde parece que abriga todo o bairro pelas manhas e términos de expediente.
O certo é que aqui na falta amor, e nem vou comentar dos tempos de quermesse, duas ruas para cima, duas pra baixo no fim é tudo Casa Verde, não temos esse separatismo prepotente, quem é da Casa Verde sabe. Aqui ainda é presente aquele bairrismo tradicional, onde se conhece todos os vizinhos. Faltam prédios e sobram sobrados, cortiços e quintais, o futebol é jogado na rua, os pipas estão no ar, a juventude faz seus churrascos na calçada e tenho a impressão que essa tradição ainda vai durar.
Quem sai da CV, não sai da CV, pode até se mudar, morar em outro planeta, primeiro mundo, Gringa ou “Nárnia”, o que viveu aqui ninguém vai roubar, nem tão pouco outro lugar vai conseguir superar, quem é da Casa Verde sabe. Os laços de amizade são fortes, todos têm amigos de infância, parentes perto, família do futebol ou dos bailes. Diversas equipes, trupes e turmas, esse espirito nunca morrerá. Vi pais que eram amigos e seus filhos são amigos a alma da Casa Verde se mantém viva. As vezes com tanto prédio fico um pouco assustado, mas quando vejo os filhos dos amigos nascendo e por aqui criando raízes, fico mais aliviado.
Atualizado em 02/2021
Foto de Raphael Igor em Wikimedia Commons